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segunda-feira, março 19, 2007  


Canta essa música comigo


A cidade, mal dá tempo.
As pessoas, só nas conveniências.
E não é sempre assim?

Mas têm um charme singular (ambas). Um silêncio, uns cuidados meio mais ou menos, meio displicentes. Mas cuidado. Como quem cuida da calçada em frente de casa. A calçada, aliás, é irregular. Mas até isso é necessário pra beleza toda. Beleza com uma sofisticação simplória, um troço entre o cru e o artesanal, alguém explica melhor? Árvores se debruçando umas sobre as outras, de cada lado das avenidas. Bosques despretenciosos. Um museu famoso, as cores das flores, uma borboleta me seguiu de casa até o trabalho um dia desses. É como se a gente soubesse o que vai acontecer depois. Mas aí, bem na hora da nossa deixa, aparece lá no fundo uma pessoa que a gente não via há tanto tempo e improvisar vira o substrato dos dias. Que quase nunca são espetaculares. Mas são sempre cheios de coisas que não existem na vida real.

Curitiba tem um cheiro de novo. Dá vontade de usar a cidade inteira, até a última linha da última folha do caderno novo. Mas como se escreve nessa língua? Quando mal se chega, já se sabe, sem querer se chama os piás, os tigres e as outras espécies que chegam sem avisar e nos chamam pra churrascos, batatas, passeios, noitadas e outras gentilezas mil. É um sapato novo tão bonito e lustroso que se tem pena de gastar mas que, por isso mesmo, se torna um troço irresistível. Respirar fundo na floresta.

O calor dessas últimas semanas. Dizem que carioca em cidade fria só pode dar nisso. De vez em quando chove. E (nunca achei que fosse): é bom. Molha a barra da calça que acabou de voltar da lavanderia. Mas não tem importância. Tá na hora do meu ônibus mesmo. Que passa tão depressa pelo estádio: os rapazes todos empoleirados tentando conseguir um vislumbre de paixão. A paixão.
Faz falta, essa porcaria. Não faz falta, o mar. Não faz falta, a comida de casa. Não faz falta, a informalidade. Mas a ternura. Essa a gente vai pegando emprestado, meio sem graça, de gente com quem não tem intimidade. Em doses homeopáticas. Às vezes faz efeito no meio da tarde e dá um barato enorme.

Andar sem pressa até uma das praças. Esqueço. Me esqueço. Nem lembro mais. Penso em todas as pessoas, as poucas pessoas, os poucos rostos, poucos passos, tudo parece deserto. Tanta gente querendo ir pra longe quando a calma dos dias tem valor inestimável. A gente diz tanta bobagem. Quanta besteira, quanta merda um indivíduo precisa falar pra estar exatamente onde quer estar? Acho que não precisei falar muito. Faz sentido, a noite, a dor, a textura espumosa e consistente da história futura. As condutas, indefinidas. Os planos, dependentes de milhões de partículas de variedades de variáveis de fatores incosistentes. Mas o que acontece. Ah, o que acontece. Isso, sim, é que cala as interrogações. Eu não sei se foi no momento certo ou se o resto todo é que estava por demais errado. Mas encaixam, as proporções, as vontades, os cotidianos cinzas ou ensolarados, tanto faz, há sempre paz. Qual o plural de paz?

A padaria, a lavanderia, a sorveteria, o mercado, a feirinha, o restaurante a quilo, o shopping e as rotinas, os bom dia's, o papo de elevador e de táxi, tudo se estabelece, como em qualquer lugar do mundo. É fácil e completo, quando você vê já está dentro. E é por isso que eu fico repetindo insuportavelmente que nunca é tarde. Nunca é. Pra mudanças ou pra reafirmações. Vivendo e morrendo é isso o que a gente compra quando decide buscar essa coisa que não sabe o que é. Mas é um preço e muitas vezes não sobra troco e se volta pra casa sem nada, sem nada palpável, mas com tanto, tão grande que não coube em nenhum lado a não ser o de dentro.

Então dance. Mas não me chame. Porque eu danço sozinha, posso dançar na sua frente, você vai rir, eu vou fechar os olhos e rir também, mas danço só. E descobri que é assim, exatamente assim, que se descobre o mundo.
   posted by Fernanda at 6:45 PM (imagens)

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