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sábado, outubro 07, 2006  

Le premier bonheur du jour


Ficou tudo tão inapropriado que uma gota quente submergiu de dentro das células de dentro dos vasos de dentro das vísceras e veio escoar-se a si própria por entre os cílios, cheios de rímel à prova d'água. A sensação de abandono era tamanha que não restou alternativa senão abandonar tudo aquilo: tomar coragem, impulso, um último gole de whisky e correr, muito veloz, até encontrar a janela aberta. Saltar sobre o parapeito e voar pra bem longe. Prometer-se descobrir quem era o último, e que cheiro, que cor teria o nada depois dele.

Tocavam umas canções tão bonitas da françoiz breut que dançar e se lembrar de tudo era inevitável, bem devagar, e sorrir tão comprido quanto a distância entre uma vontade e o prazer.

Tive um sonho: a gente chorava com medo do inseto e ele chorava com medo da gente. Só que a gente acordou e foi comer cuca de banana com suco de maracujá fresco pra se acalmar e recuperar a força pra arrastar os movéis de um canto pro outro até o fim dos tempos.

Me ajuda a lavar essa louça toda? Prometo que depois a gente fica a tarde toda molhando as plantas até dar a hora da chuva, que eu finjo não gostar. Dizem que é pra te manipular, mas você olha o meu cabelo molhado, a roupa ficando transparente, me aperta contra o seu peito e diz que é tudo charme, que eu nasci e vou morrer fazendo charme, e eu me controlo pra não achar graça, falo pra você não fugir do assunto, você não diz nada e aperta os olhos, aperta a chuva e você olha bem através dela, abre a boca não porque tem sede mas porque eu sabia e a provisão vem sempre de cima. (menos música: vem da onde, música?) eu digo vamos pra dentro porque tenho medo dos raios, e desses eu tenho, não é charme, você sorri. arranca um ramo de capim limão pra fazermos chá e me leva pra dentro, me leva pro barco de papel, porque só assim a gente consegue sair de casa no meio desse dilúvio. deixa eu pegar o guarda-chuva. esfriou, é melhor você levar teu casaco. mas agora já saímos, vamos perder a hora. (pai, quando se perde a hora, pra onde é que ela vai?) então deixa, qualquer coisa você veste o meu casaco. mas aí você é que vai ficar com frio.
não tem importância.

Dizem que nao tem solução, dizem que é assim mesmo, dizem tanta coisa que quase sempre é certa. Queria que perdessem a voz.

Tornar-se mais velho, mais chato, mais cansado. Injusto?

Mais c'est pas pour ça. Tudo o que sobra, no final (que nunca é o fim, nunca, nem quando param de bater os corações), é o som indecifrável da tevê do vizinho, um passarinho desgarrado da família alardeando o desespero, uns pingos de sereno na planta da varanda, um barulho de motor e pneus de carro voltando pra casa muito depois da hora; alguém espera, ninguém espera. Tudo escondido por trás dos tijolos que vão se empilhando em cima dos nossos sobrenomes. O que sobra são essas coisas sozinhas. Ninguém suporta mais ouvir falar: gente sozinha, ideal sozinho, dormir sozinho, falar sozinho. Até virar quase um zero mesmo (a quantidade de anulações coletivas tende ao infinito).
O vazio é um lodo espesso e intransponível que corre por dentro de encanamentos, artérias, postes, fios, veias, troncos de árvores. E vai se espalhando depressa, se estagnando por entre réplicas e tréplicas ou silêncios irreversíveis. A solidão é um troço que faz a gente abrir a geladeira sem estar com fome ou sair por aí com umas pessoas bem barulhentas pra tentar estar junto. Pra asfixiar o vácuo de dentro que não está bem lá dentro, e sim nas superfícies, nos contornos dos corpos, das coisas, nos dias nublados muito claros que contraem os olhos.

Que nem quando chegamos. Tinha tanta coisa quebrada que tivemos de enrolar as pernas e os braços em papel bolha pra não acabarmos tendo de ir ao hospital levar ponto. Num emblema, dançamos uma valsa antes de começarmos a consertar o mundo. E prometemos dançar outra depois que acabássemos. Faz uns trinta e sete anos isso e ainda não dançamos a segunda valsa.

Tanta gente se separou desde então. De outro indivíduo, de si próprio, do mundo. Tanta depressão foi escrita, fotografada e filmada. Tanto sexo foi feito pra tentar tapar um buraco que ia rasgando tudo de um pólo ao outro da terra. Tanta mentira foi contada com aquela desculpa cretina de não magoar o outro. Que por enquanto chega-se ao extremo de não saber mais. Se ganha-se mais dinheiro pra realizar uns sonhos que vão exigir que se ganhe mais dinheiro. Se queijo mussarela engorda muito. Se vale à pena se sentir tão triste por tanto tempo pra depois ficar tudo bem (Se é que vai). Se rabisca-se todas essas conclusões desamparadas e se volta-se ao zero. mas onde fica mesmo, o zero?
Já teve tanta coisa depois dele.

Regarde, les étoilles. Teve aquele beijo naquele show naquela noite que virou dia sem que a gente percebesse.

(a verdade é que daqui a uns 40 anos vamos nos lembrar desse beijo. e, do resto, quase nada.)

Podia ser tudo simples como nas ruas de cimento onde se aposta corrida de bicicleta. Joelhos ralados, mercúrio cromo, band-aid e pronto. No dia seguinte, corrida de bicicleta.

Agora é assim: nada combina com nada.
Mas não se preocupa, vou voltar lá pra te buscar. Lá onde perdi:

meu balão de papai noel pro céu
minhas lágrimas pra água da piscina
minha sandália pra correnteza do rio
meus sorrisos pra cada uma das suas gentilezas, olhares, papéis de embrulho bonitos, escolhidos com carinho.

meus caminhos
pra cada porta que se abra longe daqui.
   posted by Fernanda at 1:29 PM (imagens)

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