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quinta-feira, maio 18, 2006  


um dia chega


cansaço, cansaço.
porra, sabe, exaustão. de ficar rompendo com a linguagem o tempo todo. procurando a ciência nas condutas. as meias-palavras pra dar as notícias, um ritmozinho pequeno, verde, no cantinho da tela. que dê uma pontinha de esperança brilhando no olho da pessoa, acordando dentro do peito e faça a gente continuar.
acontece que às vezes a gente sai tão pó porque perdeu. nesse caso, saber perder é cominutivo. um monte de pedaços de gente que vão-se embora (em si e no choro dos outros), mas que acabam se acumulando debaixo da nossa porta, contas que a gente paga com multa, fica na fila do banco, perde um tempo enorme em silêncio e burocracias: encontrar um espaço no armário pro luxo de guardar cada obstrução.

depois escolhe a roupa com que vai sair de casa no dia seguinte. o dia em que te que agradecem alguma coisa que: imagina, não fiz mais do que minha obrigação. e é assim. continua, a vida, dizem.
próximo, caixa livre.

ficar achando tudo tão monótono: o alarme tocar todo dia na mesma hora, ter que sair cedo pra não pegar trânsito, ter que comer direito porque não dá tempo de não ter saúde. ou encontrar a saída: morrer não é o ideal. não é suficiente, morrer é banal. morrer é aquilo que a gente faz sempre que, pra não sofrer, contrata um exército de argumentos e de alegorias de auto-piedade pra poder ficar lá atrás de tudo, só ganhando dinheiro e quebrando as próprias pernas por aí. morrer é quando a gente deixa de. só que chega uma hora em que.

todas as tendinites valem à pena. sim. dizer as coisas fora do seu campo semântico. fazer festas surpresas pelo mundo. deixar-se flutuar um pouco nos equívocos dos outros. todos os cacos de vidro, toda a maresia grudada na janela, todos os insetos esmagados e os líquidos deles escorrendo na sola do sapato novo.
todos os atestados de óbitos que a gente entrega pras senhorinhas miúdas que há poucos minutos estavam ajoelhadas pedindo pelamordedeus.

(essas coisas que fazem qualquer um achar que virou um deserto.)

só que ficar sentindo o vazio duro em volta do ar vai dar muito trabalho. vai ter que colecionar figurinha que nem criança pra tentar sentir o troço todo de novo e, enfim, conseguir começar de uma vez só. senão vai ficar entrando na água aos pouquinhos, molhar só a barriga, depois os antebraços, o rosto, a nuca, e não vai nunca aprender como é arriscar um choque térmico.
ver que isso tudo é arcaico. essa sabedoria redundante, isso de ser melhor, de se tornar indispensável, de tentar dormir sem culpa. é só reprise de novela ruim.
ninguém quer.

o que se quer é além. a salvação em qualquer troço condenável, lamentável, a riqueza da escória. alguma coisa eterna que não dure mais do que cinco minutos pra não dar tempo de enjoar, de desconfiar, de desprezar. alguém inatingível na palma da mão.
e, principalmente, não absorver nada, não reter coisa alguma. ainda assim, chegar ao fim do dia em iminência de tudo. de tanta coisa que tem dentro.

uma vida que consiste em pausas pra reconsiderar as escolhas, de trás pra frente.
entre as pausas, a ação em si: morrer, né.

achar. rasgar. burlar.
(morrer é um troço solitário pra caralho.)

não fingir que nada está acontencendo.
isso, sim, isso é conseguir.
estar lá na frente pra ver. pra descobrir o que vai ter depois.

depois que não faltar mais nada.
   posted by Fernanda at 4:53 PM (imagens)

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