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terça-feira, setembro 06, 2005  


A solução:


Mandar por email a discografia inteira dos seus insucessos que por pouco não se desintegraram entre os outros, nas estantes dos tempos de vacas gordas em que a gente ganhava ouro branco sem motivo. Todo mundo ficou tão triste de uma hora pra outro que um dia desses parece até que passou pra mim. Fiquei olhando pra baixo um tempão e aproveitei que ele foi comprar água pra chorar um bocado. Depois tomei um banho bem frio e lavei o cabelo com xampu de camomila. Pra escapar pra dentro da cabeça, pelos poros, pra acalmar os curtos-circuitos. Ei, descobri com quantas canoas se faz um pau. Que eu sou a sua vitrine pra escória que está se arrastando e deixando pingar imundice bem no espaço entre as pedras portuguesas. O seu laboratório pra quando você quer tirar retrato em macro das micro-mazelas do nosso povo.

Eu, que me arrumei toda. A base era pra homogeneizar, um trator que sedimenta tudo até desconstruir os quebra-molas da nossa superfície; o rímel que vai se aderindo aos cílios, da raíz às pontas, até não sobrar nada que pudesse interferir no olhar da mulher que eu não sou, nunca fui. Os pós em cores propositadamente escolhidas, combinadas, colocadas sem colóquio nenhum, mas tudo muito mensurado e devagar e cheio de sentimentalismo entrelaçado, que nem na música clássica, nos concertos do chopin (os melhores pra se maquiar). A boca tão desenhada que quase nunca precisa de mais alguma coisa. A não ser fugir dos seus beijos. O sapato que você gostava. Esperei, esperei. Tomei um comprimido de metoclopramida pra ver se eu melhorava. Fiquei reciclando travessão e depois tentei disdizer tudo. Desde o começo. Pra, então, descobrir: quando é que vai começar a vida de verdade. Prometer as coisas dá um trabalho enorme.
Chegou uma hora que bastou. Ninguém espera pra sempre.

Existe todo um vocabulário que eu não conheço. Mas, em compensação, os transeuntes passam creptando e eu percebo. Têm cólica biliar e eu percebo. Descompensam do diabetes e eu, adivinha. Que nem quando você me ligou lá do outro lado pra contar que o seu pulmão colabou, e ficou pequenininho, espremido entre a maca dos bombeiros e o seu baço. Eu não me contive e ri no meio da história porque você nem sabe aonde fica o baço. Você ficou com a maior vergonha do mundo e me perguntou: - afinal, pra que serve o baço?
Interrompi a explicação pela metade e me lembrei de um negócio que tinha tudo a ver:
- Formato de olho deve ser que nem impressão digital...

Mas dia desses te dou o mapa de você por dentro, tá bom? Me lembra. De tirar a água do fogo antes que haja uma explosão que transforme toda a casa numa telona branca. Eu vou ficar sozinha, acordar com a música da tevê ligada no canal de desenho animado. E depois de cuidar de tanta gente que sai de dentro de tanta ambulância, da gente quem é que vai?
Fiquei cansada de juntar dinheiro. Vou comprar aquele sofá feio mesmo.

Mas o formato sempre depende de quem molda, entende? Por isso que tá tão disforme essa massa te engasgando aí. Por isso que não existe plural pra "contorno de olho". E, finalmente, por que é que as coisas impalpáveis são as que mais esmagam?

Espero que ele não fique bravo: joguei fora a flor. Estava linda. Mas não ia ficar olhando pra ela lembrando que ele tinha ido embora. E que não ia voltar nunca mais. Mostro a minha cicatriz nova, no ombro, e ele dá um beijo bem em cima dela. Tomei três pontos, eu digo. E a gente vai até o último andar, de escada rolante, enquanto fico me lembrando de quando eu ia à praia do leblon antes de ela ser poluída.

Daqui a pouco vou ser bem clara em relação a tudo o que em sinto em relação a todas as pessoas com quem já me relacionei.

(
só não sei se eles vão saber. vão querer. vão viver pra ver
.)
   posted by Fernanda at 12:22 AM (imagens)

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