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quinta-feira, agosto 18, 2005  


Sobre não dar as costas a quem não tem culpa


Enquanto ficou ali parada, visivelmente esperando acabar a música, agiu como se estivesse pensando que teria que ser perfeito. Tem umas pessoas assim: obcecadas com tudo. Dizem que ela é uma histérica mas, coitada, os perfeccionistas sofrem um bocado. Os hipócritas são mais felizes.

A vontade era me virar pra trás e dizer só assim: você escreve pra caralho. Mas nunca seria suficiente, não é? Todos os elogios do mundo. Deixa pra lá.

Mas não adianta, você nunca vai desvendar aquelas pessoas que falam as coisas pela metade, que choram de rir, que te abraçam como se fosse despedida. Que se expressam mais ainda quando ficam quietas. Já eu, não. Porque já contei tanto segredo, mas tanto, que virei uma mentirosa porque tive que começar a inventar mistério. Mas eu juro que não foi culpa minha, que foram as circunstâncias, que eu nem sei bem como tudo começou. Um dia ainda vou ser presa por isso: porte ilegal de histórias.

Por exemplo, café eu não gosto, aliás eu detesto; mas quero. Muito. Pra tirar esse cheiro. De podre com iodo com urina com sangue com necrose. Que vem de gente que eu amo, que eu toco, que eu não conheco, nunca tinha visto, mas que eu seguro na mão e que segura de volta com força e chora e sangra e me pede coisas que eu não posso fazer não posso dar não posso esboçar nenhuma reação nem dar informações que não sejam vagas e inconclusivas como pedir calma pedir paciência dizer que não vai doer, eles me pedem e eu peço a eles, assim funciona o comércio entre os que só querem sobreviver e os que se sentem responsáveis por tudo o que acontece e o que não. Mas que desgraça, sabe. Isso da gente ficar se enganando desse jeito.

Nos encontramos. Me contou dos seus amores, rumores, tumores. Tudo tão dilacerante e eu só pensando como ela ficava linda até quando chorava. A gente fumou um troço que primeiro deu vontade de rir, depois sono e depois deu fome. Falei um monte de besteira. Mas sabe, lindinha, agora não adianta mais. Menina linda. Da próxima vez você nem vai sentir. Parece que essa anestesia é diferente das outras: ela se acumula. Que nem vacina, já tomou?, você fica imunizada contra os agentes agressores. Porque foi isso o que fizeram: violência. Agora deixa sair o pus todo de dentro que depois melhora. Vou te mandar um potinho de doce de banana pra você não se esquecer daquilo que a gente conversou sobre a vida. Tá bem?

Depois vem o que eu fiz no dia seguinte.
Todo mundo me avisou, preocupado: não faz.
Mas fiz. E agora já era.

Quando cheguei você estava com uma concentração tão grande que até dei meia-volta pra não estragar. Meu coração passou pro lado direito, sem mais nem menos. E dei meia volta de novo.
Entrei de mansinho, sem fazer barulho, e falei: tá bonito aqui...
   posted by Fernanda at 4:48 PM (imagens)

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