: Tá bom, eu páro. : Prometo, sim. : Agora? Agora não. : Hoje também não. : Quando? Não sei quando. Quando der. : No dia eu te aviso, não te preocupa. : Não, assim não dói. Só dói quando eles também dóem. : Eles, ué. Todo mundo que chega. : É assim, por exemplo, sabe quando você tem uma febre alta e os nervos sobem até flutuarem sob a pele? Dá vontade de deitar e dormir pra ver se passa... : Nunca sentiu? Como se os pingos do chuveiro cortassem cada poro; mas você olha e não entende, porque não tem nenhuma ferida aberta, sangue, cicatriz, nada. : Exatamente: tudo sensível. Parece que qualquer coisa machuca. : Pois é; é desse jeito que dói: febre com banho. Só que sem febre nem banho. A perna, coberta pela calça jeans, fica atacada por formiga que não pica. : Não, não pica. Só fica ali mesmo, formigando. : Acho que não sinto mais nada, não. Só isso. Aliás, sinto mais um negócio por dentro que, quanto mais os outros dóem, mais aperta. : Onde? É mais na pálpebra, eu acho. Mas no peito também. : Passa, depois passa. : Quando eles ficam bons. Ou, pelo menos, quando vão pra longe. : Não, nunca precisei tomar remédio pra passar. : É, eu sei, não deve ser nada grave mesmo. : Tá, vou pensar em outra coisa. : Vou parar com isso. : Prometo. Já disse.