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quarta-feira, maio 04, 2005  

Recuperação de vida inteiras

Sobrou aqui comigo um restinho de culpa . Me transmitiu por respirar tão alto perto de mim. Ou por me emprestar aquela toalha pra secar o rosto. O ministério não tinha proibido esse tipo de coisa? Mas não faz mal, já me acostumei a não ter mais sono e, por isso, me esquecer das tuas feições. Das de todo mundo, aliás; desde aquele dia em que você usou uma bota amarela, um sobretudo, andou de mãos abertas sobre o meio-fio enquanto contava um caso qualquer. Não sei mais prestar atenção no que as pessoas dizem.

Muita coisa na iminência de escorregar da minha boca. Dá nisso: cuidar de grávida. Ouvir batimento cárdio-fetal no silêncio dos assuntos finados. Se eu contar ninguém acredita: o sorriso grande que ela deu. Quando ouviu. Junto comigo. Tum-tá.

Não tem nada que eu precise agora. Só não mente pra mim. Que eu sei que ela vai morrer. Vê, já começou. Responde só com voz, presença só com corpo. Assim não vale à pena. Vir até aqui pra entender o que é degradação. Porque despedida me consome: me recuso. Pois então, de que serve? Abrir mão de tudo pra estar aqui.

Ser magistral. Orquestrar os sonhos dos outros sem que percebam a manipulação. Sem que acordem no meio da noite querendo mudar de posição pra mandar embora o pesadelo. Irrigar os micrômetros do solo onde a chuva rompeu com a gravitação universal. Onde existe tanta violência debaixo das costelas, a maioria delas proeminente. Chegam todos os dias com um novelo de problema. Tudo acumulado, resultando em uma modalidade não documentada de dor. Um ineditismo de anormalidades. As filas, as faltas, os erros: tudo nos olhos. Culpa de quem mesmo? Não me lembro. Nessa terra de gente humilde (que vontade de chorar), amnésia é dádiva.

Levar pra casa a tal da ética atravessada de um lado ao outro do tórax. Um projétil-de-arma-de-fogo, esse negócio de não denunciar absurdos em nome de uma delicadeza tão relativa, tão abstrata. Ser condescendente com tudo aquilo. Ficar incandescente, isso sim. Perder a fome. Querer dizer assim: é foda. Pra todo mundo que passar. E, se perguntarem o quê: tudo. Tudo é.
   posted by Fernanda at 11:44 AM (imagens)

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