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sexta-feira, maio 27, 2005  


Fim do começo


Sentia falta do jeito como a mão se afundava pordetrás do pescoço, trazendo um rosto pra perto do outro: os beijos que não terminavam, nem quando acabavam. Ficavam sempre interrompidos, atropelados por um assunto que era sempre o mesmo, que não se esgotava nem depois do silêncio oportuno que ficava no carro durante a voz do brasil. Engraçado como sempre fica alguma coisa por dizer pras pessoas de quem se gosta. Mesmo que seja alguma coisa ruim. Um dia vou te levar pra salvador e a gente nunca mais vai voltar.

Os cachorros latindo lá embaixo de tudo. Antes de cheiro virar gosto, antes de sonho virar história da carochinha; vergonha pensar naquelas coisas: hoje tão banal. Tirou a La Traviatta da cabeça. Carregou nas costas tudo o que não dava pra explicar, mas que era tão, mas tão triste. Tinha um grande intervalo entre a réplica e a tréplica, que tornava o ar irrespirável, o toque repulsivo, lembrava que o mundo era aquilo mesmo, cheio de bandidos. Queria voltar pra casa porque talvez lá ainda restasse alguma coisa que fosse lembrar onde tinha deixado o isqueiro. Não que fumasse mas é que eletricidade não tinha mais. Saía por aí, pra dirigir à noite: as lâmpadas do túnel tinham sido roubadas. De novo. Começo do fim.

A forma como cabia dentro do abraço inteiro, e alguma coisa brilhava do rosto mais do que a luz na crista da onda. As artérias pulsavam tanto que doía, mas uma dor boa; esticava os dedos pra fazer cafuné e ganhar beijos difusos, profusos, confusos.
Será que desejo virou planta que tinha que ter sido regada todo dia? Não tinha nada escrito no pacotinho onde vieram as sementes.
Talvez tenha se convencido repetindo as mesmas frases vazias.

Deixou uma mensagem que, na verdade, queria dizer: Cuida de mim. Mas, não, quanta complicação, meu deus. Ao invés disso, falou:
meu alazão morreu de sede; me esqueci dele lá, guardado dentro da gaveta que nunca mais deu tempo, vontade de abrir.
mas, sabe, ao menos guardei comigo teu coração.

Pode ser, afinal, que queria dizer muito mais assim, complicado.
   posted by Fernanda at 2:51 PM (imagens)

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