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quinta-feira, novembro 18, 2004  

Aquelas lágrimas doídas no banco da praça

Está acima da questão de ser ou não um tabu. Porque um dia chega o dia em que você não quer estar lá para ver. Por enquanto, nebulosidade. As palavras ficam retidas num soluço-engasgo seco. Seco. Um deserto. Entre duas bocas. Você sempre baixa os olhos nessas horas. Logo você que sempre gostou de brincar (com fogo) de “se”. De ser. Cansou do lado lúdico de adivinhar onde ficam as constelações que vão te trazer as respostas. E eu já te surpreendi, repreendi. Você raramente exagera, mas acho que bebeu um pouco demais. Você diz que pode, dessa vez. E eu tenho a impressão de já ter ouvido isso antes. Você dança sozinha, taça na mão, salto agulha no pé. E eu nunca te vi assim: de salto agulha. Tão linda. O salto quebra e você nem percebe. Você desliza na varanda, olhos fechados, ao som da sinfonia que você sabe de cor, e que escutamos juntos naquele dia, no teatro reluzente. Foram tantos os silêncios que a gente compartilhou nessa vida curta; os concertos foram os meus preferidos. Você se vira de súbito e me pergunta como se diz qualquer coisa em outra língua. Eu respondo. E você repete. E repete. E repete. Dança. Deixa cair o copo. É mais leve do que ele. Chega ao meu ouvido e me diz: “Pode ser que eu seja tudo.”

Talvez eu nunca venha mesmo a compreender essa dor retrógrada que você sente. Talvez você também não. Joga em mim uns olhos castanhos cheios de diálogos inverossímeis. Te conheço do avesso, mas sei pouco sobre você. Que é tão sensorial, vive tudo em sinestesias. Chora em metáforas. Sem demais explicações. É força e luz durante 30 anos mas escolhe um dia pra despejar fantasmas. Se decompõe dentro do que permanece obscuro. Eu nunca soube usar uma panela de pressão. E de repente enxerguei que você era uma. Foi quando aprendi a desarticular as palavras, gestos, contextos.

Você me racha ao meio. Toda vez que chora escondido, que escreve às minhas custas, que me conta sonhos decifráveis.

A verdade é que eu não tenho certeza se quero ouvir. O que você (não) tem pra me dizer. Ao invés, te assisto patinar nos azulejos enluarados. Pode ser que a música mude às vezes; não, muda. Muda muito. O tempo inteiro. Eu é que permaneço ali, estático, pra que nada se sobreponha. Não perder no ar os teus contornos.

Você importa muito. E é por isso que eu.
   posted by Fernanda at 1:38 AM (imagens)

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