Mas não pude. Ele quis mais um pedaço de mim. Me amordaçou, amor-da-çou. Sou. Um pó colorido que ele está cheirando sempre que eu saio do banho. Razão da qual ele já me explicou. Umas mil vezes, aliás. Lilás. O lenço amarrado na minha boca. Eu rio. Num rio profundo, gelado, de água parada (é possível?) e ele me diz: o seu riso é o barulho mais gostoso do mundo. Mais que rolha estourada de champagne barato.
Ninguém entende o fato de eu não beber. E sobreviver a esse mundo cão. (Que, de tão rouco, já não late mais.) E rodar, e inspirar e transpirar. Toda essa imundice negra que se finge ignorar. O cigarro dos outros fuma o meu cabelo, toda tal vez. Talvez o contrário. Mas sempre. Chegar e lavar: obrigação. Sempre. Não beber. Opção. A liberdade. Será que ela existe? Transitar no sub-mundo e não beber. Gostar de Lynch e não beber. Arte contemporânea e não beber. Bukowski, não beber. Não entendem. Engraçado, eu não sinto necessidade. Desejo, necessidade, vontade. As 3 palavras mais fortes. Mais fortes que a gravidade? Ah, a gravidade, eu me lembro. Indescritível. Todos os porres que eu não tomei e mais os que você tomou, e os dele também. E o pó colorido também. Eu não preciso saber, tenho certeza. Me lembrar do nada cabendo inteirinho dentro de mim. Eu, a continuidade do ar atmosférico. Cair, cair. O silêncio mais absoluto que eu já vi na vida. Chorar, gritar, rir, cair. Tudo em silêncio. Junto. 3 vezes. Quantos metros somados? Duzentos e cinqüenta metros. 250. Fora os quatro mil, do avião. Mas aí são outros quinhentos. 500, podiam ter sido 500. A metade nunca basta. Nada nunca basta. Só cair. Entre dois abismos. (No lugar mais longe possível, com as cores que eu nunca tinha visto.) A única vez em que eu pensei: é isso, pronto, é só isso. E beber, pra que serve mesmo?
Tem pessoas, né, que são uns brilhos. Foi isso o que ele disse. Ele é dessas pessoas que dizem coisas que não se vê. Não se vê dizer. E não se vê o que é dito. Mas, afinal, o que se vê? Queria estar lúcida. Sóbria.