Antes eu soubesse como se faz para ser holográfica. Porque as imagens dependem de tantas variáveis que ainda não descobri. E já está tarde pra sair à procura delas; então me boicoto esquecendo a minha fala, a minha deixa. Por que será que ninguém te deixa quando você quer se desperceber? Distrair-se das próprias projeções. Algumas horas de focos luminosos sob a testa e de improvisos sobre todos os assuntos indesejáveis. Para depois regurgitar o desejo de ser volátil. Xingar, gritar, descascar-se em insultos. Mentalmente. Perturbação e melancolia. Ciclo inevitável?
Um caldeirão de sombras em devaneio. Eu revestida de luz e trilhas. Primeira vez: fato. Se eu assinar em baixo, minha caligrafia termina tremida, um pouco inconstante, minha assinatura não tem a menor graça, e eu nunca soube desenhar um F bonito. Mas, se for imprescindível, assino. Um dia ainda paro de ver tudo como sendo a coisa mais importante. Compro uma caneta iluminadora, ao invés de cinco. Porque gasto tanto.
O problema de ser tão angular pode mesmo ser esse: ter tantos vértices. Aliás, por que guardar tudo isso que a gente não usa? Meu respeito por tanta gente de repente venceu. O receituário de cinqüenta anos atrás também já não serve mais. Chego em casa concordando comigo. Você sabe o quanto me custa. Você é testemunha das minhas tentativas. Todas uma frustração só. Mas vou continuar tentando. Porque sou boba. E indigna de tanta arrogância. Você, no fundo, me acha arrogante.
E eu. Eu, se tivesse coragem, te dizia assim: não tente fazer com que eles te pensem desinteressante. Tente fazer com que eles te detestem. Porque aí, talvez, você consiga. Porque ninguém mais te compreende. Mas acho que estou começando a.
(Puxa, sou mesmo arrogante.)
Acabo me surpreendendo querendo que você esteja comigo, esperando a madrugada passar. Esquecer, afinal. O dia fica todo em islandês. A Björk às vezes canta essas coisas lindas que eu não entendo. Você me diz coisas que estão além das fronteiras da minha percepção sensorial. Que me fazem chorar como último recurso.
Geralmente a vida vai. Por alguns dias ela é. Mas hoje tudo voltou ao normal.
Só que não vou te falar disso. Acho que te digo muito. E te escrevo quase nada.