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segunda-feira, setembro 13, 2004  

Ausências impermeáveis

As pedrinhas do rio já não eram mais aquelas que, em idos tempos, se acumulavam às toneladas nas margens, no fundo, na terra ao redor. E ganhavam mais vida do que a própria correnteza. Que era forte e incisiva e derradeira. E me levou embora tantas vezes. Mas só quando eu quis. A não ser em uma ou duas ocasiões em que me distraí ouvindo as casualidades alheias. Eu disse que eu queria comprar um cordão daqueles de contas redondas. Tudo começou mais ou menos assim. Mas nem sempre os diálogos começam. Nem sempre alguma coisa remete à linguagem e o corpo se sente limpo e a boca se lava de verdades tenras. Nem sempre.

Tenho esse vício de roubar as frases, as fases dos outros. O que é imperceptível às minhas tentativas, às minhas execuções. Mas que certamente enfraquece todas as minhas intenções. Os impulsos seqüestrados de gente que enxerga melhor que eu (que não tenho um pingo de grau, nem de bom senso, nem de vergonha na cara). Me falta tanto. Sobretudo o controle daquilo que eu escrevo falo sinto penso vivo bebo. No final, tudo sai às minhas custas. A raiva de uns, a gasolina de outros. Uma imundice. Tanto que sempre vou me deitar passando mal.

Agora ontem à noite. Entrelaçados, os lábios colados, impublicidades embrulhadas entre as abstrações sussurradas (detesto essa palavra) e você me perguntando as horas. De repente foi por isso que te escolhi. Testar todas as temperaturas das cores que eu visto, tenho, sou. Fechar os olhos: é esse o objetivo de toda entrega, não? Te permitir explorar todo esse museu que eu tenho por dentro. Me despir vestindo tudo de um resumo das coincidências que eu pensei. E depois querer gravar as suas réplicas. Fazer um documentário sobre aquilo tudo. Te dizer que você vai fazer a capa do meu livro. Que eu não pretendo escrever. Porque nunca consigo a luz certa, o ângulo irresistível, aquelas imagens escandalosamente belas. As matizes certas(, porque eu gosto dessa palavra no feminino). Tenho vergonha das minhas fotografias. Mas, mesmo assim, precisava de uma lente macro pra conseguir reproduzir a sintaxe das pessoas. As raízes de toda aquela dor, e de onde vem esse cultivo pelo sombrio. A busca pelo o que é obtuso. Tanta gente triste, quimicamente triste, culturalmente triste. Os por quês. Que estão sempre faltando. Lacunas.

E chegar à feira, pensando em todas as coisas indizíveis, e dizer:
- Moço, me vê um contexto, por favor?
   posted by Fernanda at 12:57 AM (imagens)

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