Bebel
Bruna
Coga

Francisco
Gabi
Gil
Joana
Ligia
Mari
Moca
Rabuja
Rosana





Arquivos





segunda-feira, abril 12, 2004  
(esse aqui é um inédito que escrevi pra edição da Rosana lá no Blog Autores mas, só pra que esse blog não fique tão desfalcado por aquele, esse texto vai morar aqui também)


Miose

Aqui dentro tudo é luz. Desfiles automáticos de rostos destacados. Tudo o que a maquiagem é capaz de fazer. Sorrisos alinhados, olhos hidratados, bochechas saudáveis. Garrafinhas d’água sempre a postos. Atrás da cortina impera a pressa. Eu ouço choro, riso, elogio e ouço briga. Vida em excesso. Tudo em menos de um minuto. Depois (silêncio) elas sobem e caminham, algumas marcham, outras flutuam. Um quê mecanizado, sem sexo, sem poder de escolha. A definição em movimento de tudo aquilo que é blasé. Às vezes cabides, meramente. Mas não de plástico. Dessa vez não há mais plástico; há somente o pó dourado espalhado sob todos os seus poros. Reluzem sem precisar de sorriso, palavra ou movimento. A não ser o reflexo da marcha, aquele que nos acompanha já ao nascimento.

Brilham as danadas, vaga-lumes sem-sal. Gloss e glitter em quantidades profissionalmente calculadas. A inexpressividade fica toda submersa sob as cores, os tons, as dezenas (centenas?) de luminárias pendurados no teto. A claridade incomoda a platéia. Que acha tudo aquilo muito estranho e muito belo.

Nada é ridículo, impossível, inverossímil. Porque a ousadia está de acordo com a inovação. E qualquer combinação se torna plausível entre a intensidade da luz e do som. Sim, a música também. Sempre cheia de matizes que não foram previstas. O gênero faz questão de ser indeterminado, algo entre o jazz, a eletrobossa e o db. Alguma coisa poderosa, delimitada, que impulsione os corpinhos frágeis lentes fotográficas adentro.

Os flashes estrategicamente posicionados. São a linha de chegada, a recompensa final. Mas os piscas brancos, metálicos, histéricos, não conseguem se tornar predominantes. Não ofuscam o arsenal de luzes cor-da-pele que vêm dos focos de carne-e-osso. Os rostos realçados. Exóticos, poucas vezes belos. (Devem chamar menos atenção do que a vestimenta.) Mas emanando algum elemento químico inexplicável, que talvez só possa mesmo existir ali, na situação específica, sob olhares distintos. Olhares de críticos, de fãs, de reles curiosos. Olhares de quem parece ter ganho um ingresso e não estar minimamente satisfeito de estar. Ali. Algumas testas franzidas, pupilas contraídas: reflexos praticamente involuntários contra a luminosidade abundante.

A cor, a cor. Intensamente intraduzível. Um pouco de mico-leão, uma coleção de moedas recém-produzidas e um saxofone bem lustrado. Misturas. De estilos, raças e nuances. Mas nada insensato.

Depois dali, uma refeição – a primeira de um dia regado a comprimidos e cigarros. Apenas salada e um miúdo filé de peixe.
Dourado, elas pedem.

   posted by Fernanda at 2:08 PM (imagens)

Comments:



Comments:


Powered by Blogger
Site Meter