O dia em que estourei seus egos como bolhas de sabão
Foi só então que descobri como seu assoalho é frágil, todo estruturado em papel maché. Dissolve em água. Ou em palavras duras como foram as minhas.
Suas epidermes parecem precisar de polimento todos os dias para a reafirmação da sua (não tão) óbvia barreira de superioridade. Ou então perdem o brilho, tornam-se ressecadas, quebradiças. Nós aqui e você aí, filha. Não misture as coisas.
Até o dia em que levei uma agulha que, pronto, bastou. Provou que vocês não são feitos de aço. São cristal fajuto, contrabandeado, comprado no mercado do Saara. Estilhacei-os com um único sopro. Vocês se apagaram todos.
(Ah, a vaidade.)
A partir dali tornaram-se bichos. Mostraram unhas e dentes e a pele ferida. Com as marcas da minha faca descartável de festa infantil. Viraram vítimas, todos vítimas, pobres coitados, das minhas argumentações fundamentadas – que levei um ano para fundamentar. Choraram lágrimas peçonhentas e me apontaram o indicador em riste. Alegavam mágoa. Decepção.
Não foram suficientemente fortes contra minhas contestações. Forte como eu tive de ser diante de sua ausência de critérios, de seu pedantismo desmedido, de suas medidas ditatoriais. Engoli o choro e tudo mais o que me vinha à garganta em seu campo de concentração. Fazia tudo menos a massagem diária em seus egos. Nunca consegui.
Um dia fugi. Cansei. Disse-lhes o que ninguém havia sido capaz de. E vocês, agora. Coitados.
Não existem mais. São apenas espuma e água, escorrendo pelos cantos.