Bebel
Bruna
Coga

Francisco
Gabi
Gil
Joana
Ligia
Mari
Moca
Rabuja
Rosana





Arquivos





sábado, janeiro 03, 2004  

Eu e o Joaquim Ferreira dos Santos

Promoção definitiva: vá da Barra ao Leblon e ganhe a Niemeyer de brinde. Aproveite as curvas para reparar: o sol forma pontinhos luminosos no mar, quando a onda levanta, entuba, espuma e cai. Completando seu ciclo vital: nascer, crescer, se multiplicar. Morrer.

O Municipal vigia as formigas apressadas da Cinelândia. Depois deixa-se observar com toda sua permissividade majestosa. Todo dia, depois do almoço, ele dorme sob o sol castigador das duas horas. Sempre lhe pego cochilando quando subo as escadas do metrô e olho pra cima. O céu encontra a estátua que, daqui a pouco, avisa ao Teatro. Que eu cheguei. Mas ele não acorda, nem se importa: dorme pesado, acostumado. Com o calor estacionado bem ali, entre os arranha-céus. As barraquinhas de água de coco invadem as esquinas da Rio Branco e tentam todas as raças, credos, idades e posições hierárquicas das formigas que por ali passam, todas em chamas. A pele gruda no tecido interno da calça, os cabelos se colam na testa e as moedas esquecidas no bolso esquentam além do que deveriam; ameaçam derreter.

Pedestres atravessam a todo custo. Mandam e desmandam na Evaristo, que se torna desarmada de seu arsenal de ônibus e vans. Entre os becos se escondem restaurantes encantadores, barracas de churros, cookies, cachorro quente e churrasco de gato. Não diga que nunca experimentou.

Variar os caminhos da volta é um truque adquirido. Talvez a orla para rever o que já se sabe. Talvez a Copacabana interna, mais calma, menos transgressora, até chegar ao Corte: a curva é engraçada e incômoda de manipular. Talvez a Lagoa, com a poluição esquecida, submersa entre os suspiros de quem admira com vontade. Talvez o Jardim Botânico, estreito e discreto, correndo paralelo aos automóveis. Corre o risco de passar despercebido.
Talvez o Cosme Velho e o charme sobre ladeiras. Os jovens e as senhoras do Largo do Machado: os jovens alternam conversas alegres com sorvetes de casquinha. As senhoras acendem as velas da igreja e oram. Nos tornamos fiéis fervorosos por três segundos.
Depois veio o hábito de descobrir detalhes graduais: o Museu de Arte Naiif, a embaixada da Romênia, o Largo do boticário. Tesouros sem valor estimado. Sentir-se pirata do próprio oceano.

As palmeiras longilíneas, sempre em forma, passam devagar pelos carros que saltam, engarrafados, nervosos. De um lado elas, de outro o Jockey. Protegido pelo longo muro pichado, rendido nem tanto ao vandalismo, nem tanto aos grafiteiros. Mas simplesmente rendido. Vulnerável e cego aos impulsos externos. Às mãos alheias.

Tudo é bossa inesgotável. Uma bossa de curvas e fios dourados, tingidos por malícia e sinceridade alternadas. Bossa cheia de carne e cheia de alma. Completa por si só.

Carimbando a cidade que, mesmo cinza, paisagens-desgastadas e praias-vazias, é um festival de degustação universal.
   posted by Fernanda at 8:28 PM (imagens)

Comments:



Comments:


Powered by Blogger
Site Meter