Virou e me disse que sou muito madura. Assim, como quem descasca fruta passada. Sem me olhar nos olhos, sem pensar direito nas conseqüências, nos impactos. Você é muito madura. Um carimbo pesado, as palavras na minha testa. Depois mudou a conversa. De novo, sem pensar. Como quem muda o canal de madrugada. Continuei ali, no assunto antigo, na frase cuspida, meus pés grudados no chão, a cidade inteira me escondendo. Eu atrás de novela, posição política, violência urbana e, finalmente, o tempo. Tentando discursar sobre tudo e mais aromaterapia pra tentar me esquecer da palavra. Madura. Ainda não esqueci. Mas aí veio uma boa estratégia. Fico mais calma quando falam de tempo. É assunto descompromissado, despretencioso. Nem por isso falso. Quer dizer: ainda estou aqui, você pode me chamar pra te ajudar com o extintor caso a sua casa pegue fogo. Ou ao menos gritar chame o bombeiro. Eu chamo.
Deu sol pra amanhã. Nebulosidade variável. Pancadas de chuva à tarde.
Nada disso pode ser qualificado como específico. E é por isso que eu gosto tanto.