Você, menina frenética, que finge saber sobre as consistências de todas as dimensões artísticas. Você, que usa salto, saia de vinil e meia arrastão sem parecer vulgar; porque estilo é um dom de poucos afortunados. E você, que se pensa minoria, se inclui no bolo. Você pensa que sabe, pensa que pode, pensa demais. Mas se define emocional, sentimental, absolutamente desprovida daquilo que faz todos os outros mortais hesitarem. O medo, a dúvida, a insegurança. A tríade cruel que nos faz voltar atrás.
Você, menina maluca, que acha que não tem nada a perder, aposta todas as fichas. Às vezes leva. Mas às vezes perde, e então você chora. A maquiagem borra o rosto, que ainda assim parece limpo, você tira uns lencinhos da bolsa e se recompõe. Dali a cinco minutos estará às gargalhadas com desconhecidos. Conseguirá um dinheiro emprestado, uma casa alugada, uns amigos fiéis. Sabe-se lá até quando.
Você, menina perdida, que se perde entre homens e lençóis, entre o amor e o prazer efêmero. Depois conta os casos mais picantes numa mesa redonda e vira o centro das atenções. Ouçam só a voz da experiência. Depois conta segredos para uma ou duas pessoas selecionadas diretamente de sua coleção pessoal. Desperdiça uma seção inteira de discos em promoção; simplesmente porque não considerou a possibilidade de encontrar ali o que precisa. Você se considera desprendida, independente e pós-moderna. Mas secretamente espera alguma coisa um pouco mais encantada que esses meninos bonitinhos que você devora.
Você, menina boba, que já passou por isso, já soube da última, já viu esse filme. Mas deixou escapar os sentidos de todas as entrelinhas. Você olha com olhos que pulsam junto com todo o resto do seu corpo. Você olha tudo como se a vida fosse um eterno déj-à-vu. Aos seus ouvidos, nenhuma história parece ser inédita. Mesmo que ela tenha acabado de ser inventada.
Você, menina incômoda, não faz idéia. Não sabe nada. Você acende um cigarro e some na noite, leviana como todas as outras.
E eu, menina impressionada que sou, gosto de você mesmo assim.
Você pode até saber disso. Mas, tenho certeza, nunca vai respeitar.