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sexta-feira, novembro 07, 2003  


Despedida

Ela quis se afastar da festa.
Ele trancou a porta.
Ele quase disse fica.
Ela quase disse vem.
Quase porque não adiantava mais.
E se olharam com dó. Com pena daquele amor grande em fase terminal.
Ela queria descontrair o momento. Falou besteiras sem tamanho. Ele constatou: “você está bêbada” e ela reclamou que tinha direito. Dessa vez tinha direito. Ele não falou nada.
Ela ensaiou:
“quem cala...
Ele deixou um “consente” escapar. Contrariado.
Ele era bom em provérbios. Ela era forte pra bebida. Mas sentia-se na obrigação de. Pela própria lucidez. Beber para ficar mais lúcida.
Gente passional tem dessas crenças sem sentido aparente.
“Deixei sua chave dentro da gaveta.”
“É sua... foi um presente, se lembra?”
“Mas você pode dar pra outra pessoa.”
“Aquela é sua. Até a cor dela é sua.”
Ela sorriu.
“A cor dela?”
“É, eu pedi pro chaveiro fazer vermelha. Naquela época em que tudo tinha que ser vermelho.”
“Tudo, nada. Exagerado...”
Ele só sorriu e se esqueceu que gosta tanto de discutir. Ela entendeu tudo, como sempre entendia tudo, e o olhou com aquela ternura latente, pulsante. Aquela mistura de coisas que o confundiam.
“E aí, gostou da festa?”
“Gostei. A música tá ótima...”
“Queria ter chamado menos amigos meus.”
“Os meus amigos não poderiam vir mesmo. Que bom que você chamou os seus. Imagina uma festa vazia que tristeza...”
“É. Foi o que eu pensei.”
Ela detestava ficar mais velha. Ele sentou na beira da cama.
“Deita aqui comigo...”

Ela tirou os óculos. Pra enxergá-lo melhor.
Ele apagou a luz. Para observar cada detalhe.
E ficaram ali, se olhando a noite toda. Até o avião chegar.
   posted by Fernanda at 5:47 PM (imagens)

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