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domingo, outubro 12, 2003  


Donzela em apuros

ela não age e não reage
limita-se a estar enquanto existe
condena-se à ausência
dos sujeitos e predicados
de sua própria sintaxe
permanece passiva e permissiva
de tanto saber o que não quer
às vezes se pergunta se é em vão
se seus dedos tocam somente o que é real
ou se valeria a pena fechar os olhos
sem solenidades, sem juras, sem velas
só a entrega humana e carnal
misturada às verdades da ocasião
mas parece não querer se deixar
intoxicar, fragmentar e vencer
parece não perceber o impacto
da inexistência de seus sintomas
(sobre aqueles que demasiadamente são)

seus olhos não encaram
as mãos não gesticulam
os lábios não beijam
e o corpo todo em silêncio
depois se despede e sobe as escadas
carregando o karma fantasmagórico
da fragilidade
coleciona ingenuidades cósmicas
delicadezas categoricamente minuciosas
que a tornam isenta de participação
em conversas mundanas de pobres mortais

certamente nunca experimentou
chover por dentro
enquanto ensaia as palavras trêmulas
de um bilhete amassado
nunca se surpreendeu ridícula
em frente a um espelho imparcial
que não responde às suas lágrimas previsíveis
de fotos queimadas
de cartas rasgadas

se satisfaz sendo démodé, linear, indiferente
sem excessos
não arrisca vintage, acampamento
comida exótica ou filme de kubrich
nunca tem opiniões polêmicas
nem cores fortes, palavras obscenas
ou saudades de um dia pro outro

e eu me sinto enjoativa e sanguinolenta
toda vez que me dirijo a ela
   posted by Fernanda at 9:50 PM (imagens)

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