Eu te congelei entre um olhar frio e um comentário ignorado. Bloqueei seu e-mail, não atendi às suas chamadas e mandei dizer que pra você não estou em casa. Nunca. Você diz que sou inatingível, eu digo que é impressão sua. Você muda de assunto e eu não consigo te escutar. Fala mais alto. Todos já entenderam a estratégia.
Todos riem quando você não está por perto.
Você chega depois da hora e sorri como se a amizade estivesse óbvia, como se a confiança fosse incondicional. Me pede um chiclete (o último). Toma. Me pede uma caneta, me pede anotações. Toma, toma. Me pede que eu imprima 30 páginas pra você. Não, não. A paciência já acabou faz tempo, sobrou apenas a educação. Mas ela também tem limites. Um dia, quem sabe, eu grito, xingo e choro descontroladamente. Fora dos meus domínios particulares. Enquanto isso me mordo de inveja de pessoas dispersivas e escandalosas. Um dia eu esqueço, esqueço as suas mentiras mal dosadas e as suas intimidades inconvenientes. Esqueço tudo aquilo que quero dizer. Esqueço você. Mas prometa que se esquece de mim. Mesmo sem nunca ter lido isso. Mesmo sem nunca saber. Esqueça todas as coisas que nunca te disse.
Porque eu nunca vou dizer.