Quando os momentos são muito ternos e a paz é intermitente, a inspiração não vem. Não vem, não adianta. Os textos não fluem e as palavras são escassas para definir a sensação de amplidão durante uma calmaria generalizada. Como deitar-se num campo que se estende até o horizonte. O mato do seu lado, ultrapassando o nível do seu corpo, e o céu lá em cima, azul, poucas nuvens. Buscar algum sentido em tudo isso aqui. Depois chegar à mesma conclusão unânime de todo mundo e todo tempo: não faz sentido algum. Conformar-se. Levantar-se. Tirar a poeira da roupa. E depois pensar algo como: “talvez em uma única pessoa eu encontre um motivo que eleve meus acasos à condição de decisões”. Como decidir sua vida em um minuto. É verdade, estamos sempre decidindo nossas vidas em um minuto. Uma palavra de conforto na hora certa, uma sinceridade na hora errada e um beijo no momento mais inesperado de todos. Um ingresso de teatro ganho, uma passagem de avião perdida, um ônibus que vai para o lugar errado. Um poema, um texto, uma homilia do padre dizendo tudo aquilo que você precisava escutar. Os olhos se enchem d’água, mas você se controla para não deixar transparecer assim, gratuitamente. O homem tem essa mania de querer ser grande, maduro, forte e poderoso. Eu também tenho: chorar em público sempre me pareceu uma tarefa árdua e nada digna de uma mocinha crescida. Nunca cogitei usar os hormônios femininos como desculpa óbvia para os nervos à flor da pele. E, por isso, já fui interpretada como insensível, conformada, passiva... Já me disseram: “você não sabe querer” e, por alguns momentos, cheguei a acreditar nisso. E não há nada mais retrógrado em termos de auto-conhecimento do que acreditar em algo controverso que alguém disse sobre você.
Hoje acredito em algo menos pragmático. Não sou uma das pessoas mais argumentativas que conheço. Mas isso não significa que sou passiva diante de todo esse processo de interação. A menina ruiva sabia das coisas: “Não responder verbalmente não significa, necessariamente, ser passivo. Estamos nos comunicando em tantos níveis simultaneamente...” Em pleno império da globalização de idéias, onde a linguagem é o princípio ativo da vida, as pessoas se esquecem das várias camadas da comunicação e dos vários sentidos que as palavras “passivo” e “ativo” podem assumir. De repente me encontro engajada em um processo ativo, sendo lavada e levada pelas informações, mas sem uma função definida nesta hierarquia desordenada. Até que o silêncio apaga as luzes e estou sozinha novamente. Sem certezas, sem palavras. Apenas o impulso de voltar pra casa e adiar os confrontos, cansada demais para enfrentar a linguagem... Quem sabe talvez num texto longo e sem desfecho. Talvez a nossa espera pelo final do livro seja árdua demais. Talvez ele não tenha um final. E talvez isso o torne algo mais que um livro, um filme, um "post viajante".