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quarta-feira, junho 25, 2003  


Noites em claro

E de repente férias. Como é bom ser estudante. Réles acadêmica com orgulho. Deveria me render às coisas mundanas da vida. Mas as palavras pulam rapidamente da mente aos dedos, sem esperar a hora certa, sem construir uma fila indiana de fluxogramas e esquematizações de idéias racionais. Porque não são racionais. Algumas escapolem, outras se fixam no plano branco como decalques em meus cadernos de criança. Decalques que eu dissolvia na água e depois apertava, cuidadosamente, contra a capa dos cadernos, secando-os, em seguida, com uma toalha. Pouco antes do advento dos adesivos e de toda a descoberta de sua versatilidade.

Mas a madrugada me intriga. E as idéias voltam todas para extinguir os conceitos mais recorrentes da madrugada, em todos os seus nuances camaleônicos. A intenção seria contrariar o senso comum do frenessi e da magia indiscutíveis, sob pontos de vista que gritam, em uníssono, qual seria a intenção da noite. A medicina me trouxe, em sua forma mais didática, a propriedade de admirá-las de igual para igual, eu e minhas noites de sono negligenciadas.

Sou uma admiradora platônica e declarada das madrugadas. Juntei meus pedaços de papel em livros e cadernos tal como André juntara dinheiro para comprar seu binóculo e admirar a vizinha do prédio em frente. Nesse sentido, sou tão voyeur quanto ele.

Não sou uma devoradora voraz de todos os deleites que a noite pode oferecer. Não sou uma aproveitadora perspicaz de toda a sua pimenta e tempero bem dosados. Não tenho o sarcasmo e o despreendimento necessários para tirar proveito de todas as suas intrigas e seduções irresistíveis. Nem a paciência digna de seus labirintos embutidos na teoria imediatista do “viver intensamente”. Sou o menino de óculos que sentava atrás da garota de trancinhas e perdia a fala toda vez que ela olhava pra ele. Hoje ele se formou, ficou bonito e namorou muitas moças. Mas nunca encostou os dedos nos cabelos dela.

Compreendo a madrugada dentro de sua quietude experiente, acompanhando as luzes dos prédios que se apagam todas, uma a uma. Mas não a minha. Pois ainda há muita informação a ser engavetada enquanto o tempo lento da noite pinga, pinga e não faz barulho. Esse tempo que apenas os que resistem ao sono são capazes de reconhecer. A resistência se dá pela arma química da cafeína encapsulada na perseverança que vem de dentro. E mesmo quando a obrigação de levantar cedo é provisoriamente suspensa me surpreendo buscando o olhar atencioso e, ao mesmo tempo, ausente da madrugada, tentando decifrar suas intenções absolutas e me localizar entre sua consideração e sua indiferença. Quero me libertar de todos as suas definições impostas por mentes prolixas como a minha.

A Noite é essa mulher complicada com infinitos detalhes que eu nunca vou conseguir dimensionar. Porque não é minha. Nunca foi e nunca será.
   posted by Fernanda at 1:01 AM (imagens)

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