Outro dia me encantei com um cavalo marinho. Imponente, amarelo e grande. O maior que já me lembro de ter visto, incluindo até os áureos tempos de skuba. Seus movimentos eram mesmo peculiares: sem braços, sem pernas. Só tronco, cauda e nariz. Se deslocava simplesmente inclinando-se para frente e para trás e realmente não precisava de nada além disso. Talvez porque nunca havia experimentado, talvez porque braços e pernas são, de fato, dispensáveis para seres tão simples. Reparei em outros cavalos marinhos: menores e discretos, um pretinho e outro azul, escondidos atrás das algas. Sem pretensões. Depois o amarelo parecia ainda maior e me encarava timidamente. Flutuava sem esforços, um líder talvez. Sábio e pensativo, imerso naquele silêncio incompreensível da água. Tive vontade de tocar pra ele, de apresentar-lhe a música e todas as suas emoções virtuosas e nobres. Escolheria uma música à altura de sua serenidade minuciosa. Se não fosse aquele ar de melancolia diria até que estava satisfeito. Se não fossem aquelas paredes de vidro, diria até que era feliz.
Incrível como os detalhes enriquecem as impressões.