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domingo, maio 11, 2003  


Beethoven

Beethoven era um cara tão foda, tão foda que os livros e enciclopédias de história da música fazem um capítulo só pra ele. Na verdade, aquelas obras gigantescas fazem um VOLUME INTEIRO só pra ele. Beethoven nem foi um menino prodígio, tanto que só se tornou digno de qualquer menção numa idade em que Mozart já tinha escrito todas as suas obras-primas. Começou como um brilhante improvisador no piano e teve uma vida cheia de regalias e despreocupações, freqüentando as festas da nobreza. Mas eis que, aos 30 e poucos anos, surge a doença no ouvido que vai tomando sua audição pouco a pouco. Ainda assim, cria obras belíssimas que o consagram como o maior compositor do século XIX. Como artista, ele só é comparável ao seu contemporâneo Goethe.

Lá por 1820 ele ficou completamente surdo e, mesmo assim, compôs e regeu a 9ª Sinfonia. Nessa fase Beethoven se isolou completamente, tinha poucos amigos, vivia perambulando pelas ruas, sozinho, esquisito, malvestido, imundo (é esse Beethoven que conhecemos pelas gravuras). Absorvido em seus pensamentos musicais, escrevendo obras abstratas que, na época, ninguém compreendia.

Ontem fui a um concerto e Beethoven ecoava no teatro. Suas emoções efêmeras. A regente incorporando toda a linguagem musical e falando sem palavras aos violinos: “silêncio porque agora os metais precisam falar.” E eles obedeciam sincronicamente. Perfeitamente. De repente os cellos tinham voz e vez, graves como sempre. Piano, pianíssimo, forte, fortíssimo e todas as sub-divisões da dinâmica vestindo vários formatos de som. A dinâmica é responsável pelo despertar de diferentes emoções. Comparações à parte, no palco (e fora dele) tudo se organizava como uma sociedade, um regime político, um ecossistema onde tudo é interdependente. Porque sem músico não existe música e sem platéia não existe músico. Depois discutimos a função unificadora da regente, de transformar todos os instrumentos em um só e nos fazer sentir, sentir. Sentir. Sentir a música.

Depois ela ganhou rosas vermelhas e dedicou-as às mães.

O piano maravilhoso e magistral no centro de tudo. O pianista emocionado não precisava de partitura. E todos aqueles músicos, velhos e jovens, conservadores e modernos, de smoking e vestido longo, ganhavam um ar sublime de quem sabe transcender o terreno pra ressuscitar o gênio. Naquele momento deixavam de ser humanos pecadores para transmitir a linguagem sagrada, eram peneiras de energia sonora. Vamos tirar o chapéu pro compositor e aplaudir a orquestra de pé, por favor.

No limiar entre o clássico e o romântico, Beethoven coexiste em tragicidade profunda e humorismo exuberante. Soube expressar, como ninguém o soube, qualquer conteúdo emocional e dramático sem quaisquer palavras. É absurdo interpretar suas sonatas como se fossem contos e suas sinfonias como romances, sagas ou epopéias. Beethoven não precisa de receitas e regras. Faz música absoluta. Música “de dentro e por dentro”.
   posted by Fernanda at 1:12 PM (imagens)

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