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quinta-feira, abril 03, 2003  


Conservatório de sensações

Calou-se. Deu-lhe as costas, contendo a raiva, e entrou numa pequena sala vizinha ao foyeur. Fechou a porta com força e sentou-se num banco alto, de modo que seus pés não alcançavam o chão, balançando no ar. Deixou as costas caírem pesadamente no encosto do banco e suspirou impaciente, olhar distante, ainda pensando nas palavras proferidas. Olhou para a estante de partituras, acompanhando as folhas que caíam, espalhadas pelo chão, obedecendo ao vento forte do fim da tarde. Levantou-se rapidamente e fechou a janela. Abaixou-se para pegar as folhas, uma a uma, e colocou-as com leveza na estante.

Como tivesse esquecido a raiva com que entrou no cômodo, pegou um pequeno cubo de resina marrom e deslizou-o pacientemente pelas fibras brancas presas ao grande arco. A cor da madeira brilhava, independente da luz do dia, que já era escassa. Ela acendeu as velas que iluminavam a partitura e escolheu 3 folhas cuidadosamente. Sentou-se, novamente, no banco alto, dessa vez sem descansar as costas no encosto, mantendo a coluna apenas um pouco inclinada para frente. E deslizou o arco pelas cordas, observando o som atentamente sem, porém, que as notas fizessem algum sentido musical. Após concordar com a afinação olhou-se no grande espelho em frente ao banco onde sentava. Era um espelho antigo, com moldura patinada e pequenas manchas de ferrugem no vidro. Mas era necessário, essencial para o estudo e para a arte que, naquele momento, era só dela. Cabelos negros despenteados. Mas não se importava. Segurou o talão do arco com uma habilidade óbvia e delicadeza pessoal, arranhando a crina melancolicamente sobre as cordas, deslizando os dedos pela lisa e longa tábua preta, produzindo uma música densa e agressiva. Ora triste, ora alegre. Mas sempre forte e decidida. Um tango talvez.
Suas emoções turbulentas agradeciam a oportunidade de transbordarem em forma de som.

O violoncelo era apenas um mediador.
   posted by Fernanda at 2:19 PM (imagens)

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