Detesto admitir certas coisas. Uma delas é que eu gosto de previsibilidade.
Gosto de acreditar na meteorologia. Sempre que o céu azul contradiz a previsão do jornal eu tomo parte do pessoal da pesquisa e saio de casa com um guarda-chuva na bolsa. Às vezes o centro continua tão quente e ensolarado que são precisos 2 mates, 1 guaraná, 1 suco e 2 águas de coco pra conseguir algum grau de hidratação. Mas às vezes cai um pé d’água que inunda a cidade e eu sou obrigada a ficar presa dentro de um shopping durante 3 horas. Até que as correntezas deixem a cor do asfalto aparecer de novo. Eu nunca comparei as freqüências de acerto e erro das previsões simplesmente porque porcentagem nenhuma me convence a preferir o duvidoso pelo garantido. Talvez eu seja mesmo terrivelmente covarde. Mas eu prefiro os eufemismos: friamente racional.
Uma vez uma astróloga me disse que, por trás de um racional, há uma sensibilidade irreparável. Pode ser, então, que isso tudo de ser racional seja apenas uma grande desculpa pra manter a máscara, construir a fortaleza e dar uma grande festa sem convidar a si próprio.
E eu tenho essa coisa de vidente frustrada. Porque tento prever, antecipar e perco o tempo de viver. Ainda falta ler 80 páginas pra prova de amanhã. Mas estou pensando no que vou fazer daqui a dois anos. Vida é isso mesmo, John Lennon já falou. Só que quando tudo parece planejado, desde os dias até as cores, o mundo resolve plantar bananeira e a ventania deixa tudo fora do lugar. Aqueles sonhos vão sendo substituídos por outros e a gente vai se desdobrando pra não se render àquela saudade do que não foi vivido. Sonhos vem, sonhos vão. O resto é imperfeito.
Alguém me disse que o que está sonhado já está vivido pela metade.
O desafio é aprender a me satisfazer só com a metade.