Véspera de carnaval, começo de provas, caos no Rio de Janeiro, mudança de casa e muita falta de tempo.
Os amigos me cobram as fotos, as histórias... Eu trago. Eu conto tudo com os mínimos detalhes que eu consigo lembrar. Pela vigésima vez como se fosse a primeira. Só que tem aquela frustração de não conseguir se expressar, de querer falar: "ei, cara, você não está entendendo, isso foi realmente..." Então eu escrevo um e-mail pros meus companheiros de viagem. Aquela gente maravilhosa. Sem frescuras e sem cerimônias, que comia quando tinha dinheiro, dormia quando dava tempo, tomava banho quando era possível. Banheiro coletivo, quarto com gente estranha, todos os alojamentos lotados... problema nenhum.
Aulinha de inglês de manhã, europeus rindo da nossas histórias e muito pé na estrada. Mapa na mão. Dirige, pára, foto, praia, surfa, dorme. Dirige de novo. Mergulho no Mar da Tasmânia. E assim vai... Nova Zelândia em um mês. Exótica, organizada, maravilhosa. Inesquecível. Chora no avião, chora vendo fotografia, chora vendo vídeo. Chegando aqui, cada um toca a sua vida e, ao menos, nos resta o correio eletrônico para falar de coisas aparentemente incompreensíveis.
Esportes radicais: todos. Possíveis e imagináveis. E sensações indescritíveis, frustrantemente indescritíveis. Mas eu tento.
Pular de bungee é fazer o mundo inteiro calar a boca. Silêncio aí porque eu vou me atirar de um precipício de 134 metros de altura. Não pensa, pula. Senão fica difícil. Depois é só cair, cair, cair sem medo. O mundo te espera, te puxa e te abraça de novo. Quando você voltar, grite, pule, fique bêbada. Porque puta que paril!
O sky-diving não faz sentido algum. Mas foi a melhor coisa dessa vida. E não há como falar nele sem sentir na cara aquele vento de 200km/h. É instantâneo.
A ilha sul é algo de outro mundo, além de nossa capacidade de compreensão visual. Eu nunca tinha me apaixonado por um lago antes. Minha primeira providência ao chegar no Rio foi pintar o quarto daquela cor. Corri pra loja de tintas com minha mãe: "moço, me dá o catálogo aí." E chegamos bem perto...
A volta à realidade é praticamente um banho de água fria. Porque as aulas já começaram e eu saio correndo atrás dos livros, das matérias, dos laboratórios. Fisio é gigantesca, Patologia é envolvente, Farmaco é foda. Além das aulas, a mudança também começou antes que eu pudesse desfazer minha mala. Sai do apart-hotel (ufa) e vai pro apartamento novo. Poeira, pó, obra, peão, confusão. Muitas caixas a serem desempacotadas.
Ainda assim, não há um dia em que não venha à tona pra pensar naquele mês intenso, naquela terra encantadora, naquela liberdade imensurável, consciente e um tanto quanto prematura. Mas essencial como recheio de alguma coisa que ainda não sei bem definir. Mas vou descobrir.