De repente tudo se desmorona. Eu. Você. O verão e as viagens. Tudo se fragmenta em milhões de pedaços cruéis de momentos que não serão libertados das garras da mente. Tenho medo de tudo o que não mereço deles (nem de você, nem de ninguém) pela minha própria irresponsabilidade. Incapacidade. Sinto-me incapaz, impotente diante de um beco sem saída... que eu mesma construí. Injustiça ou não (agora não importa mais o que é justo), parece que estou fadada a me estafar sem resultados concretos. Ou dignos de créditos e menções. Pois assim se cumpre em todos os âmbitos... no emocional, no profissional, no familiar. Alguns de nós simplesmente nasceram losers. Senão como reconheceríamos os vencedores? Gente é pra brilhar e não pra morrer de fome. Mas acho que nem todos nós temos o direito de brilhar, Caetano. Nem todos podemos reluzir diante de nossa imagem refletida no ouro de um troféu. Mas você não saberia, não é, Caetano?
E se esse é o meu destino (se é que tal coisa existe), quem sou eu para me rebelar? O que me resta senão cumprí-lo? O que mereço além do desprezo daqueles que eu amo tanto a ponto de não conseguir lamentar o meu fracasso, mas sim as expectativas deles?
Talvez minha mãe esteja certa. (Pra variar.) Talvez eu não saiba querer. Talvez me falte a garra e a paixão do time sem tática, sem jogada ensaiada, que joga apenas com o fogo no pé e o beijo na camisa. Posso ser muito mais superficial que sempre julguei. E isso me custa admitir...
Sinto ser tão decepcionante o tempo todo. Pra mim, pra você... pra todos nós.
Quando o ano acaba sempre há a genialidade do calendário da qual falava o Mário Quintana. Eu me prometo que tudo será diferente.
Mas nunca é.
Eu e o trânsito
Eu não posso dirigir. Me faz mal... Sabe por quê?
Porque eu tenho essa porra dessa mania de remoer os meus erros. Não consigo falar foda-se pra praticamente nada. Tudo é tão infinitamente importante pra mim. E isso dói. Porque todo mundo faz merda no trânsito, mas depois supera. Eu não. Não consigo falar um puta de um foda-se pras minhas merdas.
Só mesmo falando muito palavrão pra disfarçar esse ser ridículo que eu consigo me tornar. Sério, não é só novela mexicana: chega a ser meio psicótico....
Ontem fui ultrapassar um caminhão parado (esses caminhões parados no meio da rua são os caras mais malas que existem) e fechei um carro que tava no meu ponto cego. Depois, à noite, vieram os surtos esquizofrênicos de mea culpa: “devia ter esperado mais, devia ter olhado pelo vidro, devia ter ao menos pedido desculpas. Devia mesmo era mandar uma cesta de café da manhã pro cara. Porque, afinal, ele tem que aturar barbeiragens de iniciantes retardados como eu todos os dias.”
Cesta de café da manhã que nada! Devia parar de ficar me lamentando. O cara nem se lembra mais. Está em casa, assistindo ao jogo, com cerveja na mão. Gritando, torcendo e xingando a mãe do juiz.
E eu aqui, pateticamente deprimida.
O problema não é o erro em si, mas as repercussões dele. Obviamente. Porque eu tenho pavor de buzina, que nada mais é do que um belo esporro essencialmente urbano.
Por isso o trânsito me faz mal. E por isso eu, utopicamente, escolhi a medicina. Porque eu não quero ter surtos esquizofrênicos à noite. O que eu quero mesmo e deitar a cabeça no travesseiro e dormir instantaneamente.