Um certo dia eu descobri que esse meu amigo querido é gay. Ele simplesmente chegou e mandou na lata: "gente, eu queria falar pra vocês que eu sou gay." Estupefação geral. A gente até matou aula pra ouvir as histórias e as origens de tudo (se é que aquilo tudo começava de algum ponto), conhecendo uma nova dimensão daquele amigo, tentando - e conseguindo - compreendê-lo melhor. Nunca deixarei de admirá-lo pela atitude e pela coragem de se expor. Porque Goethe já disse: "Pensar é fácil. Agir é difícil. Agir de acordo com os próprios pensamentos é ainda mais difícil." Ainda mais quando o assunto é sexualidade. (Esperança nos anos 00.) E ele conseguiu, esse meu amigo. Conseguiu superar a dificuldade de ser fiel à própria essência.
Depois disso eu passei a conviver mais conscientemente com esse mundo, que é tão meu quanto deles. Que é de todos nós.
O problema foi que um dia eu entrei numa de achar que todos os homens do mundo eram gays. Ou tinham sérios riscos de se descobrirem como tais. Parecia uma espécie de lésbica em fase de auto-afirmação e orgulho gay exacerbado. Uma amiga minha falava: "Fernanda, você tá paranóica." Tava mesmo: irritantemente paranóica. Talvez estivesse despertando para o tamanho e para a dimensão da homossexualidade em toda a parte, que abrange tantos aspectos, tantas pessoas, tantas classes e idades.
Depois passou, sem que eu percebesse. Aliás, como QUASE tudo que começa e termina na minha vida. Deve ser o karma da distração geminiana. Mas não, não entremos em astrologia agora... O fato é que passou. Ainda bem. O Universo masculino deixou de ser uma ameaça gay em potencial. Pelo menos pra mim...
Hoje eu acho graça nas meninas que vão pela primeira vez ao Mundo Mix. Comentam e cochicham e arregalam os olhos.
Tudo tão normal, natural. Algumas vezes são extremamente transgressores e exagerados, é verdade. Mas já me acostumei a isso também.
Faz parte do ritual.
Palavrinhas mágicas
Eu estava prestes a dizer que estava com saudades dessas chuvas de verão. Aí apagou tudo. O computador, o som e, pior de tudo, o ar condicionado. Trinta e cinco graus dentro do meu quarto e nenhum sinal de brisa entrando pela janela.
Cachorro com calor, de língua pra fora, deita no chão, tentando sugar pela barriga os resquícios de geladinho. Os filhotes, que ousaram abrir os olhos nesse fim de semana, dormem tranqüilamente; nada os abala...
Minha mãe presa no engarrafamento, um poste caiu no Alto da Boa Vista. Legal.
O livro de biologia molecular (biomol para os íntimos) aberto, me cobrando. Logo hoje, logo agora. Depois de um dia tão saudável. Exercício, praia e piscina de manhã.
Mas vamos lá. Porque as endonucleases restringem a multiplicação dos vírus...