A última aula da semana acaba.
Esse momento é sempre complexo, porque as vontades acumuladas transbordam. Todas ao mesmo tempo e o meu impulso, às vezes, é começar a chorar.
Preciso chegar em casa logo, mas a Lagoa tá toda parada. Preciso chegar em casa pra ligar pra todo mundo e mandá-los virem pra cá, AGORA, não importa onde estejam. Porque eu estou com saudades. Ou então barzinho e papo até de madrugada. Dessa vez sem música ao vivo, por favor. Eu quero ouvir cada palavra... Preciso chegar em casa logo, tomar um banho e correr pra casa de uma amiga. Faz tempo que não nos falamos direito, sem pressa, sem sono. Mas essa rua do Miguel Couto, a essa hora, é um inferno. Sexta feira é mesmo o pior dia.
Quero ver minha prima. Esquece isso de passar em casa, vou direto pra casa dela. Me empresta pijama, chinelo, shampoo. A gente faz brigadeiro, aluga um filme e conversa até cair no sono. Ainda sobra conversa pro café da manhã. Depois piscina.
Falando nisso, preciso vencer o trânsito e chegar em casa. Pra avisar pros amigos que amanhã é dia de praia. E nós vamos estar lá, estatelados em cangas o dia inteiro, mergulhando no mar e devaneando em conjunto. Porque o devaneio em conjunto é uma das coisas mais mágicas que já inventaram.
Mas eu acabo antes. Ligo pra amiga e é aniversário da mãe dela. O resto parece interessado em uma noite inesquecível, uma rave, uma cobal agitada. Como todos os jovens saudáveis. Lembro que a minha prima mora em Nova Iorque agora. E fico aqui, derrotada. Pelo cansaço, pelo trânsito, pelos livros. Estafa. Exaustão. Então me dou ao luxo de invejar toda aquela liberdade por alguns instantes. Toda aquela despreocupação e aquela intensidade de momentos únicos e memoráveis. (nostalgia, nossa, muita nostalgia.) E algo me diz: "Não somos responsáveis apenas pelo que fazemos, mas também pelo que deixamos de fazer." Isso é Moliére. Mas eu tento ignorar o peso dessa frase, apesar de ela continuar ecoando aqui dentro, manipulando ações e palavras. Dentro dessa confusão acabo sempre emocionalmente prejudicada...
Mas antes que eu possa perceber, o tempo me anestesia contra a saudade e as angústias. Talvez eles tenham se tornado indiferentes. Mas agora não importa mais. Impressionante a capacidade do homem de se adaptar às condições adversas. Darwin sabia das coisas...
As críticas às minhas escolhas deixam de surtir efeito e, em uma fração de segundo (dentro de meses voadores), desaparecem.
Nesse momento só me restam fotografias...